quarta-feira, 10 de junho de 2009

Doze mil - Conto

Tenho mil anos, sou fazedor de minha historia.Tenho uma era na memória, um corpo belo e são. Sou quem eu era antes agora, mas já fui outro, que invariavelmente não fui outrora, e me pergunto "Deus, vou-me a que hora?. Por que do mundo não sou um grão?" E o todo poderoso em seu trono, majestoso e piedoso as hastes do céu ergueu e profetizou, "Eis que findará tua demora". Pois fui-me a ordenar pensamentos, dormir menos tempo, tornar-me são. E neste sono mínimo, nestes roncos cínicos, veio-me a conformação, o todo poderoso sussurrou: "a felicidade não tem idade, é uma erva que não cresce, ela não morre nem envelhece, não esgota nem falha, ela é a verve de tudo que apascenta, a felicidade não tem endereço, é um medicamento sem preço, uma vivacidade que espalha, a felicidade é o maior de todos os segredos, a mãe e o pai do medo, a cousa que jamais descansa, a voz que o sono amansa, um sentimento em migalha".O livro de minha mente expandiu. Que sentimento seria este? Por que em mim os vincos perdeste? Por que logo eu, quem mais viveu, não o viu? Eis, que nas passadas dos dias longos, criei mais duvidas que um milhão, e cem décadas depois, quando o Futuro já se pôs, veio-me a exclamação! Deus disse, que é a vida para ti? Senão o simples ensejo de continuação? Pois o castigo será dado, e enquanto não estiveres preparado, teus dias não chegarão. A vida perdurará, mais dez mil anos, vivera ate que um instante tu sejas feliz, pois quem na vida passa, e as oportunidades desgasta ainda é tolo aprendiz." E então clamei o tempo, "Oh! senhor, cesse o meu fardo, que nas chamas com prazer ardo, se for este o talho do destino, nas cordas mudas desatino, nos galhos secos batalho, mas não deixe que meu falho seja minha provação!" Foi nesta época que o véu do tempo fechou e os raios e trovões cederam, o sol não brilhou, as estrelas pereceram, a lua apagou, os mares inundaram, o vento não soprou, flores não desabrocharam. Dez mil anos depois, como dois portões planos os horizontes se abriram, e o todo poderoso, ao prado montanhoso urgiu, "Vosso apontamento faliu, o teu pedido foste negado, por que por mais que eu tenha dado, tu apenas pediu. E como nos livros escrevi, como nas historias ditei, como nos profetas concebi, a morte é inerente, e quanto mais enganá-la tente, mais ela o perseguirá. Mas teu caso é diferente, tu procuras a morte, tu te livras da sorte, que teu deus te deu. Por isso mais ainda tu vives, pois quem agoura a vida, cria uma grande ferida, e é onde jamais estive. Portanto má é tua conduta, pois com o cansaço permuta, conjeturando o fim, e esse propósito que enlutas, esta decisão astuta, pertence só a mim". Apos a revelação a terra abriu, o rio desceu, a flor ressurgiu. Sob meus pés o paradeiro estático de minha ultima morada arrefeceu, o meu olho `as imagens sorriu, minhas costas a terra venceu, minha mente a cautela esqueceu, minha vida ao tempo sucumbiu. O todo poderoso em seu trono, majestoso e piedoso me absolveu, em 12 mil anos vivi, e nas ultimas horas que respirei, foi onde mais a paz encontrei, onde a felicidade percebi. Na eterna esperança dos tempos findos achei a minha desgraça, achei a minha fortuna, pois do mesmo castigo que alcancei, alcancei também a minha graça, morri!


Autor: Filipe Camelo

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